Por Vanessa Barbosa, publicado originalmente no site da revista Exame em 15/08/2013

Nesta vaga havia um carro, mas agora não há mais. E quem chega perto se espanta com o que encontra no lugar – uma área para encostar a bicicleta, tomar uma banho de sol, ou ainda relaxar entre uma pausa e outra no expediente. Bem-vindo à Zona Verde, a versão paulistana do projeto conhecido como “parklet”, tendência mundial que transforma vagas de carro em zonas de convivência.

Numa primeira etapa, o Zona Verde vai ocupar, de hoje até domingo (18), duas vagas do estacionamento rotativo pago Zona Azul, uma na Rua Maria Antônia, no bairro da Consolação (cima) e outra na Rua Amauri, no Itaim Bimbi, como parte do projeto Design Weekend (DW!).

O mobiliário é composto por peças de madeira e de concreto em estrutura modular, que criam floreiras e bancos. A coluna vertebral da empreitada é a ideia de recuperar o espaço público para o uso coletivo e tornar ruas e bairros mais humanos e amigáveis.

“São Paulo não é uma cidade para pessoas, é uma cidade para carros. Isso precisa mudar. E o primeiro passo é atacar a questão da mobilidade”, diz Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde. “Uma cidade boa para pessoas tem que criar meios para que possamos nos deslocar a pé, com facilidade e com prazer. O simples ato de sair de casa até o ponto de ônibus pode ser um martírio aqui”, critica.

Além do Instituto Mobilidade Verde, participam do projeto o grupo Design Ok, o Gentilezas Urbanas do Secovi-SP e os escritórios de arquitetura Zoom e H2C.

Com o Zona Verde, os organizadores pretendem criar um canal de diálogo com a sociedade, para debater questões ligadas à ocupação do espaço. Para atrair a sociedade para o debate, foi criado um site onde as pessoas podem contribuir com propostas. Esta é apenas uma prévia do que vem por aí.

Os desafios de se ocupar uma vaga

Numa segunda etapa, novas Zonas Verdes deverão ser instaladas pela cidade durante a 10º Bienal de Arquitetura, que começa em outubro. Com essas investidas, o projeto pretende se tornar parte da realidade da cidade, ainda que com intervenções temporárias, em dias específicos da semana.

O desafio maior será ganhar status permanente. Só para realizar as duas instalações durante o Design Weekend, foram necessários mais de seis meses de negociações com as autoridades públicas. Embora não tenham encontrado muitas resistências no caminho, os organizadores apontam a burocracia e os impedimentos legais como principais entraves. Pela lei paulistana, a Zona Azul só pode ser ocupada por carros.

Em São Francisco, nos EUA, berço do movimento do parklet, as vagas poderiam ser ocupadas com outros fins desde que se pagasse pelo tempo de ocupação do espaço. Por aqui, a abordagem da Zona Verde é mexer mais fundo na estrutura e questionar a própria gestão do espaço público. Estimular mudanças na lei faz parte disso.