Software está disponível gratuitamente e pode ser adaptado outras cidades

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP criou um software gratuito que visa auxiliar prefeituras, centros de controle de zoonoses, universidades e Organizações Não-Governamentais (ONGs) na gestão do manejo populacional de cães e gatos. O projeto foi desenvolvido pelo médico veterinário Oswaldo Santos Baquero, em sua tese de doutorado, orientada pelo professor Fernando Ferreira. O software está disponível neste link.

O trabalho ajuda a caracterizar as populações de cães e gatos e, com isso, gerar informações que permitem planejar, implementar e monitorar as intervenções voltadas a diminuir as taxas de abandono e aumentar as de adoção e de esterilização, além de fornecer quais as combinações entre essas intervenções seriam as mais efetivas para o controle dessas populações.

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Software está disponível gratuitamente e pode ser adaptado outras cidades

Mediante o uso de modelos matemáticos desenvolvidos na pesquisa e disponibilizados no software, é possível avaliar também como a população de cães e gatos se comporta, se ela aumenta ou diminui, em função de intervenções de manejo populacional. O usuário consegue ver qual o efeito das intervenções na dinâmica da população.

“O software responde diversas questões, como por exemplo: se eu aumento a taxa de esterilização dos animais, o que vai acontecer com a população de cães e gatos? Será que basta esterilizar 5% deles? E se combinar esterilização com redução de abandono e aumento da taxa de adoção? Em qual magnitude eu preciso fazer isso para ter um efeito notável de controle populacional?”, explica o pesquisador.

Para realizar o estudo, Baquero colheu dados na cidade de Votorantim, no interior de São Paulo. Foram visitados 515 domicílios para aplicar um questionário de 24 perguntas. O pesquisador coletou informações demográficas que permitiram estimar, entre outras coisas, o total de animais no município, a expectativa de vida, a proporção de esterilizados, qual a origem, o destino, o sexo e, no caso das fêmeas, se já haviam dado cria e qual o tamanho da ninhada. O questionário trouxe ainda questões ligadas ao abandono, entre elas, se o proprietário já tinha abandonado algum animal e o que achava do destino de cães e gatos de outros moradores da cidade.

Foi possível traçar dois perfis: um com as características demográficas da população de cães e gatos da cidade, e outro com o perfil das percepções públicas ligadas ao abandono de animais.

Erros de estimativa

Baquero desenvolveu ainda uma outra pesquisa de caráter teórico para melhorar os procedimentos amostrais. Ele explica que os censos (estudos que incluem toda a população) quase sempre são inviáveis pelos custos e a dificuldade operacional. Como alternativa, pode se selecionar só uma parte da população (amostra), mas respeitando critérios probabilísticos para poder fazer inferências ou estimativas em relação à população total. “Essas inferências sempre vão ter um erro associado, maior ou menor dependendo do tamanho e da composição da mostra. Se eu falar que quero fazer uma estimativa que tenha, no máximo, um erro de 10%, então qual deveria ser a composição da minha amostra para eu não fugir desse limite de erro?”, questiona. O projeto por ele desenvolvido oferece este recurso.

O usuário pode ainda escolher um método de amostragem para selecionar os domicílios do município que quer caracterizar. Depois é só realizar as entrevistas, inserir os dados coletados para rodar no programa e ver qual o efeito das intervenções com base na população encontrada na cidade.

imagem: reprodução

Software permite ao usuário ver qual o efeito das intervenções na dinâmica da população animal

Outra possibilidade é que os usuários conseguem priorizar intervenções de acordo com a magnitude do efeito. “Se ele fizer uma simulação, o programa vai mostrar qual é a intervenção que faz o maior efeito. Com isso, é possível planejar para investir os recursos de forma mais eficiente.”

De acordo com o médico veterinário, apesar de ter sido feito com base nas informações de Votorantim, é possível usar o software em qualquer outra localidade. O programa não está limitado apenas às características demográficas que Baquero trabalhou no questionário. Há uma flexibilidade que permite a adaptação, de acordo com as necessidades. “Se o usuário quiser estimar o número de animais vacinados, por exemplo, basta incluir essa pergunta no questionário”, esclarece.

Votorantim

Outro ponto interessante foi que os entrevistados citaram o custo das castrações como a principal razão para não esterilizar os animais. “Mas Votorantim oferece esse serviço no Centro de Controle de Zoonoses e também há o trabalho de algumas ONGs. Aparentemente a população não está muito ciente disso. Um caminho para melhorar seria investir na divulgação dessas possibilidades e, ao mesmo tempo, tentar ampliar esse serviço na tentativa de aumentar a cobertura de esterilizações”, sugere.

Baquero constatou que 17% dos cães e 56% dos gatos eram semi-domiciliados (moram em uma residência, mas têm acesso às ruas). “Se essa taxa fosse reduzida, diminuiria o número de animais das ruas. As mudanças no hábito de restrição e supervisionamento, junto com a prevenção do abandono, são a principal forma de diminuir isso”, finaliza.

No site do software, há um livro que mostra como usar o programa (Guia de programação para o pacote do R capm) e outro que guia a coleta de dados (Do IBGE ao pactoe do R capm).

Da Agência USP