Localizado no região sul de Curitiba (PR), onde desaguam os rios Barigui Iguaçu, está o Caximba, bairro que é fruto de uma invasão que começou em 2010. Além do acúmulo de lixo e do entulho, a região também sofreu com as cavas decorrentes da exploração de argila para fabricação de tijolos telhas.

“A ocupação foi feita em cima de um aterro dessas lagoas, que tinham a pior qualidade possível. O lixo presente na região foi aterrando as cavas. Foi um cenário que causou grande preocupação porque é uma ocupação em forma de palafitas, mas em um aterro de péssima qualidade”, destaca Mauro Magnabosco, arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Bairro Novo do Caximba prioriza soluções que evitam alagamentos, como o dique e lagoas de contenção. Crédito: IPPUC

Para melhorar a qualidade de vida da população local e oferecer uma estrutura adequada de moradia, foi criado o projeto de reestruturação urbana do Bairro Novo do Caximba.

A iniciativa prevê a criação de infraestrutura de transporte, lazer e a implantação de um grande parque linear para a conservação da Área de Preservação no encontro das bacias dos rios Barigui e Iguaçu. Ainda, a ação contará com a construção de um dique para contenção de cheias – problema recorrente no cotidiano dos moradores.

O edital de licitação para participação em oito lotes do projeto já está aberto e prevê a construção das primeiras 792 unidades de habitação.

Reforço da sustentabilidade

Um dos motes do projeto é a sustentabilidade. Dentro da região, há três extratos de preservação: a área de preservação ambiental (APA), o corredor sanitário (uma faixa em torno do rio, com cerca de 200 m, que tem restrições para ocupação) e a área do bugio.

Realocação de famílias

Uma das primeiras fases deste projeto prevê a realocação das famílias.

“Essa é uma questão que vinha se arrastando por vários anos. Essa invasão, além de estar em uma região de várzea, está em uma área de preservação ambiental. Mesmo sendo uma área de extremo risco – tanto ambiental como de enchentes – não havia nenhuma ação neste sentido. Desde 2017, tem sido feito um cadastramento das famílias para, posteriormente, a realocação das mesmas. Foram levantados mais de 1.693 domicílios. Destes, 1.147 serão realocados e 546 regularizados. Estas pessoas serão levadas para uma quadra após o dique e terrenos vizinhos entre a Rua Delegado Bruno de Almeida e a ocupação. Serão construídas 1.149 novas casas”, explica Magnabosco.

Foi realizado um novo zoneamento na região, que ganhou uma zona residencial de ocupação controlada.

“Provavelmente, dentro de cinco a dez anos, essa será uma área fortemente de expansão de construção de habitações para a cidade. Como tínhamos a preocupação de que a Vila 29 de Outubro ficasse desligada da estrutura urbana, ela passará a ser preenchida e fará parte da malha viária da cidade como um todo”, pontua Magnabosco.

Consequentemente, esta região ganhará uma nova estrutura de pavimento, energia, água e esgoto.

Infraestrutura pública

No local, haverá uma região destinada aos equipamentos de infraestrutura urbana: unidades de saúde, escolas, CMEIs, CRAS, creches, entre outros.

Dique e lagoas de contenção

projeto prevê ainda a construção de um dique, como barreira de inundação. Próximo a este dique, haverá pistas de caminhada, praças de lazer, locais para corridas, ciclovias. Além disso, haverá a criação de lagoas de contenção de cheias e uma área de plantio, que proporcionará uma fonte de renda para economia circular da população.

Parque

Em Curitiba, temos vários parques ao longo do Rio Barigui que funcionam como um local de drenagem. “É o caso, por exemplo, do Tingui, Tanguá e do Barigui. Eles funcionam como esponjas que absorvem as grandes enxurradas. Dessa forma, a água é levada aos poucos para o rio, retardando as enxurradas”, expõe Magnabosco.

Nesta área, está prevista também a construção de um parque linear, como forma de absorção para as grandes chuvas.

Nas novas vias, as calçadas serão feitas de pavimento permeável, enquanto as ruas terão pavimento de concreto. Crédito: IPPUC

Pavimento de concreto no Bairro Novo do Caximba

Um dos grandes destaques do empreendimento do Bairro Novo do Caximba é a construção de novas vias para realocar a população que já está lá. “Eles vão retirar a área de invasão e construir habitações novas. Com isso, haverá uma série de vias novas para alimentar esses empreendimentos”, explica Alexsander Maschio, gerente regional Sul da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Neste espaço, tem algumas soluções em concreto que serão utilizadas. “Tem a Via do Comércio, por exemplo, que é uma rua compartilhada. No meio, tem pavimento de concreto convencional e tem o permeável nas calçadas. Há também as vias de tráfego mais intenso que seguem a mesma linha desta, com pavimento de concreto no trecho carroçável e o permeável nas calçadas. Por último, há as vias do tipo B, que são mais estreitas e tem em torno de 5 m e 7 m de largura. Nestes casos, tanto as calçadas como as ruas são em pavimento permeável. Essa questão da permeabilidade foi adotada por estar em uma região onde costumam haver muitos alagamentos. Inclusive, fez com que conseguisse uma redução de custo de implantação de drenagem”, afirma Maschio.

pavimento de concreto e o pavimento permeável se encaixaram no contexto do projeto pela questão da sustentabilidade. “O pavimento permite absorção de água – que é direcionada para o solo. Desta forma, vai retroalimentar lençol freático, evitando o acúmulo d’água na superfície e o efeito enxurrada. A ideia é minimizar escoamento superficial”, justifica Maschio.

Ainda, o pavimento de concreto se provou uma boa solução pelo fato de ser algo sustentável e de menor manutenção. “O objetivo era fazer um investimento e não ter que retornar pra fazer manutenção em pouco tempo. O que não deixa de ser sustentável. Nessa linha, o pavimento de concreto se encaixou perfeitamente. E, com a questão da permeabilidade, ganhou ainda mais pontos. Com isso, há os benefícios como retroalimentação do lençol freático, minimização do efeito de enxurrada na superfície – todas essas questões que são bem problemáticas”, defendem Maschio.

Entrevistados

Mauro Magnabosco é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1982, possui especialização em Fotografia Casa Alfredo Andersen Museu e Escola de Arte de Curitiba (1978). Em 1994 assumiu a Presidência do IPPUC, coordenou vários projetos, dentre estes a reestruturação do setor histórico de Curitiba, Casa Vermelha, Casa da Memória, Cinemateca, Memorial da Cidade, Praça Rui Barbosa e Rua da Cidadania Matriz; projetou o Memorial Árabe, as Ruas da Cidadania do Pinheirinho, Santa Felicidade, Fazendinha e Boa Vista.

Alexsander Maschio é Gerente Regional Sul da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Contatos
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Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

Publicado originalmente em: https://www.cimentoitambe.com.br