A cidade de San Jose, nos Estados Unidos, vive uma situação comum a muitos centros urbanos da América Latina: uma expectativa de crescimento acelerado nas próximas décadas. O governo local está trabalhando para lidar com essa demanda focado no uso compartilhado das ruas, com bairros e vias que sejam amigáveis a quem não anda de carro.

Para ajudar, a Associação de Pesquisa Urbana e Planejamento de São Francisco (SPUR) produziu um extensor relatório de 67 páginas focado em técnicas de construção e design que a cidade deveria encorajar para promover espaços mais propensos à caminhada a pé e ao uso misto de veículos e pedestres.

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Vista aérea da Praça Savassi, em Belo Horizonte-MG: revitalização tornou o espaço mais amigável à circulação de pedestres e fortaleceu o comércio e lazer na região. Clique na imagem para saber mais.

Se por um lado é complicado fazer um retrofit de cidades inteiras, mudanças pontuais em pequena escala podem fazer toda a diferença. Para facilitar, a SPUR resumiu o relatório em sete princípios que ajudam a produzir um melhor desenho das cidades.

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A rua Vidal Ramos, em Florianópolis-SC, foi totalmente reformulada para priorizar o pedestre. Clique na imagem para saber mais.

1. Crie espaços de qualidade para a circulação dos pedestres
Caminhar meio quilômetro em um estacionamento gigantesco e árido não é das melhores coisas a se fazer. Percorrer a mesma distância em uma calçada repleta de lojas, cafés e espaços de descanso, por sua vez, é uma ideia muito mais agradável. No fim das contas, está tudo relacionado à percepção da distância.

As cidades devem evitar os enormes e massivos edifícios que consomem quarteirões inteiros e particionar as ruas em pequenas porções, que tornem a caminhada mais simples e agradável.

cidade3-ecod2. Oriente os prédios para as ruas
Em vez de construir uma loja distante da rua, com um enorme estacionamento na frente, o relatório sugere colocar a entrada principal diretamente na linha da calçada, encorajando os pedestres a entrar e visitar a loja. A construção na linha da rua é um atributo das cidades tradicionais e boas de caminhar, onde as ruas são inteiramente preenchidas por prédios alinhados à calçada.

Isto ocorre porque as pessoas tendem a se sentir desconfortáveis em locais muito abertos e expostos, sem proteção – um resquício do instinto de fugir dos grandes predadores. Espaços mais compactos, como uma tradicional praça europeia, tendem a ser vistos como ambientes mais confortáveis.

 

Cuidar bem das cidades é mais simples do que parece. Clique aqui e baixe o Manual de Espaços Públicos

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3. Organize formas de apoiar a atividade pública
As melhores cidades possuem centros ativos, onde as pessoas querem gastar seu tempo. É importante encontrar um balanço saudável entre os espaços ativos da cidade e lojas como cafés e mercados, sem deixar também que os lotes comerciais tomem uma área excessiva das ruas. O mundo é repleto de espaços comerciais vazios, sem uso, e uma academia, um muro de escalada ou um local de uso da comunidade podem funcionar muito melhor para trazer mais vida a uma região.

4. Faça os estacionamentos atrás ou embaixo dos prédios
Se você colocar um prédio atrás de um estacionamento, o pedestre se sente como um cidadão de segunda classe, desfavorecido. Assim, o relatório recomenda fortemente que os estacionamentos sejam colocados no subsolo ou na parte traseira dos prédios.

cidade2-ecodNão há forma mais impactante de alterar o ambiente urbano do que alterar a lógica dos estacionamentos. A forma como os projetistas urbanos pensam os locais de estacionamento – levando em conta que todo motorista se torna um pedestre quando sai de seu carro – pode fazer mais por uma cidade do que qualquer outra coisa. Um grande estacionamento no subsolo pode proporcionar uma comunidade mais vibrante e afeita à caminhada, se feito da maneira correta.

Encontrar  o equilíbrio entre os múltiplos usos dos estacionamentos (residencial, comercial e para empresas) é um trabalho difícil. Além disso, é uma construção mais cara, que exige um planejamento cuidadoso para garantir que as entradas e saídas de pedestres e carros sejam lógicas e convenientes.

5. Trabalhe com a escala humana em prédios e detalhes da paisagem
Por mais grandiosos que possam ser os edifícios, uma boa sinalização e entradas bem construídas podem trazer as coisas de volta à proporção humana. O edifício Empire State, em NY, é um bom exemplo de estrutura massiva bem desenhada para os pedestres no nível do solo. Não importa o quão alto um prédio é, ter sua base repleta de árvores, sinalizações em escala humana e entradas amigáveis podem fazer uma enorme diferença.

AF_16_MG_PRAÇA-SAVASSI_WEB-26. Ofereça acesso livre e contínuo aos pedestres
Os pedestres precisam ter formas fáceis de se locomover entre praças, parques, ruas de acesso exclusivo e outros locais onde os carros não podem ir. Uma sinalização urbana clara, explicando como se deslocar em um determinado local ou complexo é muito importante, especialmente para áreas cheias de turistas.

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“Parklet” em São Paulo: criados nos espaços de vagas para estacionamento, permitem aos pedestres descansar e aproveitar o espaço público com mais qualidade

7. Faça ruas completas
Nos últimos 80 anos as nossas ruas foram destituídas de todas as suas funções, exceto o movimento de carros. Agora, as cidades estão procurando encorajar e reativar estes outros usos. A premissa é chamada de “rua completa”: um desenvolvimento urbano focado em todas as funções que uma rua deve cumprir como um espaço social e comercial, além de uma via para o trânsito de bicicletas, transportes coletivos urbanos, e veículos pessoais. Incluir espaços onde as pessoas possam tomar um café, ler o jornal, ou simplesmente ter um encontro casual ao ar livre é uma forma ainda mais efetiva de valorizar os espaços públicos de um bairro.

“7  simple ways to make every city friendlier to pedestrians”, por Jordan Golson